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Entrevistas diárias com pessoas de todas as áreas. Artistas, cientistas, professores, economistas, analistas ou personalidades políticas que vivem na França ou estão de passagem por aqui, são convidadas para falar sobre seus projetos e realizações. A conversa é filmada e o vídeo pode ser visto no nosso site.

Location:

Paris, France

Networks:

RFI

Description:

Entrevistas diárias com pessoas de todas as áreas. Artistas, cientistas, professores, economistas, analistas ou personalidades políticas que vivem na França ou estão de passagem por aqui, são convidadas para falar sobre seus projetos e realizações. A conversa é filmada e o vídeo pode ser visto no nosso site.

Language:

Portuguese


Episodes
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Fotógrafo francês expõe em Paris a tradição do bate-bola, figura icônica do carnaval do RJ

11/7/2025
Foi a partir de pessoas que conheceu no mundo do baile funk carioca que Vincent Rosenblatt foi apresentado aos bate-bolas, personagem tradicional e misterioso do carnaval fluminense, que representa toda uma parte pouco conhecida da cultura brasileira. Os homens fantasiados com extravagantes macacões e máscaras, que andam pelas ruas assustando os foliões, fazendo barulho ao bater as bolas no chão, viraram inspiração com fotos expostas em uma galeria de Paris. Vincent Rosenblatt conheceu o Brasil em 1999, quando estudava na Escola de Belas Artes de Paris e foi ao país para um intercâmbio. Depois de nove meses, voltou à França para terminar os estudos, mas já com planos de retornar às terras brasileiras. Ao se lançar em projetos de fotografia em comunidades do Rio de Janeiro, teve um primeiro olhar sobre a cidade, tão dividida, mas de cultura tão rica. “Escrevi um projeto, ‘Olhares do morro’, um ateliê de fotografia no topo do Santa Marta, em Botafogo, que rendeu frutos, com exposições na sede da Unesco em Paris, no ‘Encontros da fotografia’ de Arles, em 2005, no primeiro Ano do Brasil da França (...) e eu acompanhava jovens fotógrafos para, aos poucos, construírem seu olhar”, conta. Foi a partir daí que, em 2005, ele foi, pela primeira vez, a um baile funk, experiência que descreve como uma epifania, e que rendeu uma de suas séries fotográficas: Rio Baile Funk. “Eu vi a beleza, energia, moda, catarse que essa juventude carioca vivencia no final de semana. E eu pensei: isso é tão bonito, vai me ocupar por muito tempo”, disse. Essa presença constante nos bailes das comunidades e o fato de oferecer suas fotos para os DJs, MCs e público, protagonistas do funk – que as expunham no Orkut, rede social da época, como ele conta, rendeu a Rosenblatt uma proximidade com figuras emblemáticas dessas localidades e um convite especial, que acabou por inspirar a série "Alucinação", dedicada aos bate-bolas. “Epifania" O fotógrafo conta que foi em 2007, quando um DJ o convidou, em um dia de carnaval, para a saída da Turma do Índio de Guadalupe, grupo tradicional de bate-bolas do subúrbio do Rio de Janeiro, que ele conheceu o personagem pela primeira vez. “Eu tive outra epifania vendo essa outra camada da cultura e da arte carioca que eu totalmente ignorava e a partir desse primeiro encontro eu não parei de visitar mais turmas, de entender essa dinâmica, de receber mais convites”, contou. Ele destaca que em 2016 fez a primeira exposição sobre o tema no Sesc de Madureira, quando convidou as turmas de bate-bolas a expor suas fantasias, suas máscaras e a dar palestras. “Para se apresentarem como os artistas que eles são, com uma arte de rua, um street art carioca que gera uma exposição gigante. Assim nasceu uma aliança e eu vi a dinâmica afetiva e social, o mutirão, o fazer junto, desse esforço pelo desejo de arte”, contou. “O que me chamou a atenção no bate-bola é que não é folclore, é uma reinvenção permanente através da escolha de cada um desses milhares de cabeças, [como são chamados] os líderes da turma, de escolher um tema, de uma história que vai contar. E essa beleza toda se perde depois do carnaval”. Reviver as emoções da infância Para Rosenblatt, o bate-bola é herdeiro de muitas influências, do Pierrot europeu às espiritualidades afro-brasileiras, passando pela cultura pop. No entanto, nada na Europa se assemelha a essa tradição. “Existe uma evolução do sentimento do bate-bola, que quer seduzir e apavorar ao mesmo tempo. O bate-bola é um apreciador da sua arte e tem uma rivalidade, como em qualquer cena artística”, disse. “Mas não tem nada igual porque o bate-bola foge dessa repetição, ele é um mutante permanente, e é por isso que ele me interessa. E o público aqui [na Franaça] não tem essa cultura de rua que persiste no Brasil”. Projetos futuros Vincent Rosenblatt conta que no dia 14 de novembro será inaugurada em São Paulo, no Museu da Língua Portuguesa, a exposição coletiva Funk, um grito de liberdade e ousadia, que já...

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Pintora modernista do Brasil é resgatada por pesquisadora em livro após décadas de invisibilidade

11/5/2025
A jornalista, pesquisadora e escritora Mazé Torquato Chotil, baseada em Paris, resgata a trajetória da artista plástica Lucy Citti Ferreira, brasileira de formação europeia, cuja obra transita entre São Paulo e a capital francesa. No livro Lucy Citti Ferreira: a pintora esquecida do modernismo, Mazé revela uma artista autônoma, sensível e injustamente apagada da história da arte brasileira. A artista plástica Lucy Citti Ferreira viveu entre dois mundos, o Brasil e a França, e construiu uma trajetória singular no modernismo brasileiro. Nascida em São Paulo, em maio de 1911, Lucy passou parte da infância e juventude na Europa, especialmente na França e na Itália, o que influenciou profundamente sua formação estética. Estudou nas escolas de belas-artes francesas e desenvolveu uma produção marcada pela sensibilidade, pelo rigor técnico e por um diálogo constante entre pintura e música. Apesar de sua formação sólida e da atuação no cenário artístico paulista, Lucy foi, por décadas, relegada ao esquecimento. A jornalista e escritora Mazé Torquato Chotil, autora do livro Lucy Citti Ferreira: a pintora esquecida do modernismo, decidiu enfrentar esse apagamento histórico. “Ela era artista tal qual o Lasar Segall”, afirma Mazé, referindo-se ao pintor com quem Lucy manteve uma relação profissional e afetiva. “Segall dizia: ‘Ela não era minha aluna, era minha colega de trabalho’.” Mazé explica que o desafio maior foi justamente falar de Lucy como artista autônoma, e não como musa ou sombra de Segall. “Quando ela volta ao Brasil, já era uma pintora formada, com diploma, com experiência europeia. Era uma profissional à part entière, como dizem os franceses.” A autora destaca que a pintura de Lucy e Segall compartilhava influências europeias e que foi [o escritor e figura-chave do Modernismo brasileiro] Mário de Andrade quem os apresentou, reconhecendo afinidades estéticas entre os dois. A biografia escrita por Mazé é também um exercício de justiça histórica, especialmente no que diz respeito à invisibilização das mulheres artistas. “Como muitas outras, Lucy foi esquecida porque era mulher. Pintora, numa época em que isso não era permitido.” A autora lembra que mesmo nomes como Anita Malfatti e Tarsila do Amaral foram “desenterradas” apenas nos anos 1980, após décadas de apagamento. O trabalho de pesquisa foi intenso. Mazé passou dias mergulhada no centro de documentação da Pinacoteca do Estado de São Paulo, onde Lucy deixou um acervo valioso antes de morrer. “Ela fez um testamento do material que tinha — arquivos, cartas, muitas telas — e doou à APAC (Associação de Proteção e Apoio à Cultura), com a condição de que fossem distribuídas a outros museus.” Hoje, obras de Lucy estão presentes em instituições como o Museu de Arte Judaica de Paris, o MUnA em Minas Gerais, e até em cidades como Bauru, ampliando o acesso à sua produção. O resgate de uma artista apagada pela história e pelo mercado Mazé conta que o processo de escrita envolveu “lapidar a matéria da memória”, expressão que usa para descrever o trabalho de reconstrução da trajetória de Lucy a partir de documentos, cartas e testemunhos. “Fiquei horas e horas lendo o material que ela doou. As cartas trocadas com Segall são muito interessantes, revelam não só a relação artística, mas também aspectos íntimos e emocionais.” Um episódio marcante na vida de Lucy foi o escândalo envolvendo obras suas vendidas como se fossem de Lasar Segall, por valores muito superiores. Para Mazé, esse caso é emblemático do apagamento das mulheres na história da arte. “Isso me lembra, num espelho reverso, a relação entre Rodin e Camille Claudel. Claro que não é a mesma história, mas há paralelos e pensei sobre isso durante a escritura do livro”, conta. A autora também destaca a relação de Lucy com Paris, cidade onde viveu sozinha, estudou, pintou e se afastou dos circuitos sociais. “Ela tinha um espírito poético, excêntrico, recusava os padrões da época. Pintou até um padre nu, viveu como quis.” Essa...

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Pesquisadora lança livro sobre influência do Brasil na música francesa do século 19

10/31/2025
Radicada em Paris, a pianista, pesquisadora e musicóloga brasileira Zélia Chueke acaba de lançar seu quarto livro, dedicado às influências e trocas musicais entre Brasil e França no século 19. Em entrevista à RFI, ela detalha o processo de pesquisa que deu origem à obra — fruto de uma investigação minuciosa baseada em inventários históricos, que revelam conexões surpreendentes entre os dois países. A ideia da obra Quand le Brésil inspire la France (“Quando o Brasil inspira a França”, em tradução livre), publicada pela editora L’Harmattan, surgiu a partir de uma descoberta peculiar feita por Danièle Pistone, fundadora do Observatório Musical da França: uma lista de composições francesas da segunda metade do século 19 cujos títulos evocavam o Brasil. Inseridas em gêneros populares da época – como valsas e polcas – essas partituras revelaram nuances culturais que motivaram Zélia Chueke, diretora do Grupo de Pesquisa Músicas Brasileiras da Universidade Paris-Sorbonne, a desenvolver o que ela chama de “uma trama musical”. “São peças que não têm necessariamente o interesse em termos de qualidade musical, nem foram peças que entraram para a história da música. Mas elas abrem um caminho e desvendam um cenário sociocultural”, explica a pianista e pesquisadora. Zélia ressalta que foi graças à identificação de pequenos detalhes que pôde verificar o quanto a música brasileira influenciou a francesa no chamado “Século das Revoluções”. Elementos como títulos, imagens de capa e dedicatórias de partituras, revelam traços dos costumes da época, como “meninas de boa família que tocavam piano”, destaca, além de alusões ao imaginário do exótico, refletindo “o que os franceses pensavam que seria o Brasil”, observa a pesquisadora. Histórias contadas por partituras Ao longo da pesquisa, Zélia também identificou marcas da música brasileira em obras de compositores estrangeiros, como os italianos Joseph Fachinetti e Luigi Carvelli, além do norte-americano Charles Lucien Lambert. Este último é autor de uma peça que remete à cantiga popular “Cai, cai, Balão”, de Assis Valente – evidência de como elementos nacionais foram incorporados e reinterpretados fora do Brasil. “Cada partitura conta uma história diferente”, ressalta a musicóloga. Ao estudar essas composições francesas, Zélia também se deparou com uma curiosa recorrência na França, em uma época em que as canções cívicas tinham grande relevância: muitas dessas obras evocam trechos do Hino Nacional do Brasil. Segundo ela, o ritmo marcante da melodia brasileira despertava o interesse de compositores estrangeiros. Além de revelar conexões musicais entre Brasil e França, a pesquisa também conduziu Zélia a um mergulho na Paris do século 19 — uma cidade que, apesar das transformações, mantém traços facilmente reconhecíveis ainda hoje. Um exemplo é o trajeto entre a Rue Vivienne e o Teatro do Châtelet, no 1º distrito da capital francesa, caminho habitual dos professores e alunos do Conservatório de Paris daquela época. No acervo de um dos espaços mais emblemáticos da cultura parisiense, Zélia localizou dois jornais especializados que, com frequência, faziam referência ao Brasil: La France Musicale e L’Art Musical. Para a pesquisadora, essas publicações desempenharam um papel importante na construção do imaginário francês sobre o país e podem ter influenciado diretamente compositores como Félicien David – autor da ópera-cômica La Perle du Brésil (“A Pérola do Brasil”), estreada em 1851. “Essa foi a primeira ópera de Félicien David, que fez muito sucesso, que salvou o Théatre Lyrique, que enfrentava problemas para se manter. Entendemos que ‘La Perle du Brésil’ deve ter incentivado pessoas a olharem o que era o Brasil”, diz. Mistérios a serem desvendados Outros mistérios sobre a possível influência do Brasil nas composições francesas ainda permanecem sem resposta. É o caso do compositor Henri Duvernoy, autor da peça Première mosaïque du chant brésilien (Primeiro Mosaico do Canto Brasileiro, em...

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Margareth Menezes celebra 38 anos de carreira e reafirma o Afropop como linguagem viva da música brasileira

10/27/2025
Em pausa de suas funções como ministra da Cultura do Brasil, a cantora e compositora Margareth Menezes aproveitou as férias ministeriais para voltar aos palcos e celebrar os 38 anos de carreira. A artista, considerada a principal voz do afropop brasileiro, se apresentou em concertos na Europa. Lizzie Nassar, correspondente da RFI em Lisboa “Estar aqui em Portugal é sempre um prazer. Neste show, trago um pouco da minha história, músicas novas e referências a artistas como Gil e Caetano. É um conjunto de canções que descrevem o meu trabalho, a linguagem do afropop brasileiro e a sonoridade da Bahia”, afirma a cantora em entrevista à RFI. Mais do que um gênero, Margareth Menezes define o afropop como uma linguagem musical — uma expressão que une ancestralidade e presente. “O afropop confirma que a ancestralidade está viva. Ela interage com o agora. No Brasil, essa presença vem dos ritmos trazidos pelos africanos, que geraram uma riqueza rítmica imensa para a nossa música popular”, explica. Segundo a artista, o afropop representa um reconhecimento das raízes afro-brasileiras dentro da contemporaneidade. “Ser afropop é entender sua raiz, reconhecer a ancestralidade e agir na atualidade. É afirmar que essa linguagem existe e que o Brasil precisa assumir isso com naturalidade, como faz com outras tendências.” “Ainda há resistência ao que vem da África” Margareth lamenta que, ainda hoje, a contribuição afro-brasileira na cultura e na música encontre resistência. “Infelizmente, ainda estamos num mundo em que tudo que tem a palavra ‘África’ parece causar estranhamento. Como se a presença e o pensamento afro-diaspórico não pudessem fazer parte de uma sociedade moderna. No Brasil, ainda há uma luta grande nesse sentido”, diz. Ela destaca, no entanto, uma nova geração de artistas que também se reconhece nessa linguagem, como Maju, o BaianaSystem e outros nomes que vêm ampliando o espaço do afropop nas plataformas e nos palcos. Com 11 álbuns de estúdio e seis gravações ao vivo, Margareth tem revisitado sua discografia e disponibilizado suas obras nas plataformas digitais. A cantora relembra que sua geração — ao lado de Carlinhos Brown e Daniela Mercury — herdou e transformou a energia criativa do tropicalismo. “Nós trazemos essa revolução tropicalista dentro da nossa maneira de expressar. Reconhecemos o legado dos blocos afro da Bahia, cruzamos as claves e reformulamos esses ritmos em cima do trio elétrico com uma banda pop”, explica. “A ancestralidade não está no passado, ela cria o futuro” Mesmo envolvida na gestão pública da cultura brasileira, Margareth Menezes reafirma que o palco continua a ser o seu lugar de celebração e resistência. “Estamos num ano de muitas entregas no Ministério da Cultura, mas cantar é a minha origem. A música é uma forma de me reconectar com a minha história e com o público”, conta. Para o próximo verão, a artista planeja novas gravações e, claro, participação confirmada no Carnaval. “O afropop é o som do presente. A ancestralidade não está no passado — ela está viva, pulsando e criando o futuro. É isso que eu tento transmitir em cada música.”

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Maria Luiza Jobim canta Gainsbourg em Paris e prepara disco com o marido António Zambujo

10/24/2025
Paris foi uma das etapas da turnê europeia da cantora, compositora e produtora Maria Luiza Jobim. Filha mais nova de Tom Jobim, ela estreou nos palcos franceses em 19 de outubro na casa de shows New Morning. Com dois discos lançados, além de uma série de EPs e singles, Maria Luiza prepara um novo álbum, que terá, entre outras canções, "Go go go". Miguel Martins, da RFI em Paris Depois de lançar os discos Casa Branca (2019) e Azul (2023), Maria Luiza Jobim embarcou numa turnê por Portugal, Espanha, França e Inglaterra. Ao lado dela, o novo marido, o cantor português António Zambujo, também subiu ao palco em alguns momentos para dividir canções com a artista. Após o show no New Morning, Maria Luiza conversou com a RFI e revelou que a turnê é um prenúncio de futuros trabalhos em parceria com Zambujo. Uma das faixas que deve integrar o próximo disco da cantora é "La Javanaise", clássico do francês Serge Gainsbourg, interpretado por ela e Zambujo durante a apresentação. Maria Luiza Jobim canta em português e em inglês, idioma no qual foi alfabetizada. Ela costuma lembrar da época em que morou em Nova York, com seus táxis amarelos e arranha-céus que marcaram sua infância. Nas letras, a artista também se inspira nos pequenos prazeres do dia a dia: os videogames da Nintendo, as séries na Netflix e até os aromas da cozinha, como o da clássica “sopa de letrinhas”. Sobre o peso do sobrenome Jobim, ela garante que não se sente oprimida pela herança do pai. Hoje, divide a vida entre o Rio de Janeiro e Lisboa, onde mora com o músico português. Nós temos planos de gravar no meu disco. O António vai participar cantando "La Javanaise", do Serge Gainsbourg. Eu venho de uma família muito musical. Então, é como se fosse uma continuação disso. É muito familiar para mim, natural e gostoso. Questionada sobre essa nova etapa de sua vida entre o Brasil e Portugal, Maria Luiza Jobim diz que o país europeu “é como uma casa” para ela. A série de shows que passou pela Península Ibérica, França e Inglaterra tem sido marcada por estreias e emoções. “É a primeira vez que eu toco em Madri, em Paris, em Londres... tem muita novidade!”, contou. “Está sendo muito pessoal também. Emocionante, claro, ter a presença do António comigo.” Entre línguas e afetos Sobre seu estilo musical, Maria Luiza prefere não rotular. “Definir a minha música, eu realmente não saberia dizer”, admitiu, rindo. “Para mim é muito natural transitar entre essas duas línguas. Eu vivi muito tempo fora, estudei em escola americana, falo inglês desde muito nova.” A escolha do idioma, segundo ela, é sempre afetiva. “Não é uma estratégia. É sempre uma escolha. No lugar do afeto mesmo, da expressão e da busca da verdade nas coisas que eu escrevo.” Apaixonada por línguas e pela cultura francesa, Maria Luiza revelou o carinho especial por Paris. “Eu sou completamente apaixonada por essa cidade. Consumo muito da cultura francesa.” Foi esse fascínio que a levou a regravar “La Javanaise”, de Serge Gainsbourg, em dueto com Zambujo. “Achei que ficaria bonito fazer um dueto com uma voz feminina, mais delicada.” A artista reconhece o peso e a beleza do legado da obra de Tom Jobim. “Passei muito tempo sem tocar as músicas do meu pai, justamente para conseguir encontrar minha identidade artística.” Hoje, ela se sente mais à vontade. “Eu sinto que também tem muito de mim ali, da minha história.” E cita uma imagem que carrega com carinho: “Minha mãe uma vez falou que é a sombra de uma árvore frondosa. Você vive numa sombra, mas é uma sombra linda. Não é opressora. É uma sombra que inspira.”

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Marcelo Rubens Paiva lança tradução francesa de ‘Ainda Estou Aqui’ em Paris

10/21/2025
O roteirista, escritor, dramaturgo e músico Marcelo Rubens Paiva está de volta à capital francesa para lançar “Je Suis Toujours Là”, versão em francês de seu livro “Ainda Estou Aqui”, que inspirou o premiado filme de Walter Salles. A edição francesa, publicada pela Decrescenzo, se junta às traduções já lançadas na Itália, Espanha e Portugal, ampliando o alcance internacional da obra. Luiza Ramos, da RFI em Paris O lançamento acontece nesta quarta-feira (22) na Universidade Sorbonne Nouvelle, em um encontro literário organizado pelo escritor e professor de Estudos Brasileiros Leonardo Tonus. O evento contará com a leitura de trechos do livro em francês por um ator, e exemplares estarão disponíveis para venda. “Ainda Estou Aqui” é um relato autobiográfico que entrelaça memória familiar e história política, tendo como eixo o desaparecimento do deputado federal Rubens Paiva durante a ditadura brasileira. O livro homenageia Eunice Paiva, mãe do autor, ao retratar sua coragem diante da repressão, sua determinação em retomar os estudos para criar sozinha cinco filhos adolescentes, e sua luta para provar que o marido foi assassinado pelo regime militar. Tanto Leonardo Tonus quanto Marcelo Rubens Paiva avaliam que o interesse crescente do público europeu pela temática da ditadura militar brasileira está diretamente ligado ao avanço da extrema direita em diversos países e ao contexto atual de tensão democrática. “Na Europa, atualmente, muitos intelectuais têm sofrido cada vez mais pressões por alas de extrema direita e até censura por algumas alas partidárias”, afirma Tonus. Marcelo complementa: “A ditadura no livro é um personagem com mais profundidade, com mais detalhes, com mais histórias. Ao mesmo tempo, o mundo está vivendo essa tensão, não só na Europa, mas nos Estados Unidos e na Argentina. Acompanhando todos os eventos que estão acontecendo no Brasil, que realizou de uma forma inédita um processo contra aqueles que tentaram um golpe contra a democracia, existe todo esse debate sobre o valor da democracia”. Público jovem politizado O sucesso da obra entre o público jovem universitário é notável. Tonus relembra o impacto do primeiro encontro com Paiva, realizado em março deste ano no mesmo campus parisiense: “Foi o ponto máximo na ocasião dos 48 encontros literários promovidos pela universidade no âmbito da Temporada do Brasil na França. Naquele momento também tinha relação com o filme que acabava de ganhar o Oscar. Foi um sucesso! Em apenas três horas, os 350 lugares foram esgotados”. Marcelo acredita que essa identificação vem da força da narrativa familiar: “Eles são muito ligados no que está acontecendo, especialmente nas questões políticas. É um livro que fala de uma família jovem, uma mãe, um pai que desaparece, e cinco jovens, que, cada um à sua maneira, tentam viver em um período muito conturbado na nossa história. (...) E eu acho que os jovens se veem um pouco nessa família, uma família lutando diante de uma tragédia para superar e utilizando o ativismo político, inclusive como uma arma de superação e de luta”, disse à RFI. Nome de rua na Itália Na Itália, onde o filme de Walter Salles fez enorme sucesso desde a premiação no Festival de Veneza, em 2024, a tradução do livro em italiano já está na sexta edição. “A Itália é muito emocionada com esse filme, com esse livro”, contou Paiva, destacando a conexão afetiva com o país, reforçada pela descoberta da origem italiana de sua família, proveniente da pequena cidade litorânea de Polignano a Mare, na região da Puglia (sul). Essa descoberta levou o prefeito local a organizar uma homenagem à mãe do escritor na próxima sexta-feira (24). “A prefeitura vai inaugurar a Via Maria Eunice Facciolla Paiva, e toda a família foi convidada para a cerimônia, exceto minha irmã Eliana, que não pôde vir”, contou. “Também fomos convidados para abrir o Festival de Cinema de Bari, um dos mais importantes da Itália, que tem mais de 40 festivais espalhados pelo país. É uma região que...

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Em álbum de peças inéditas, Maria Inês Guimarães traduz o choro para músicos de formações variadas

10/20/2025
A pianista, compositora e musicóloga mineira Maria Inês Guimarães, uma das fundadoras do Clube do Choro de Paris e presidente do Festival Internacional de Choro, acaba de lançar um novo álbum de partituras, com composições próprias e que propõem uma ponte entre o piano solo, a música de câmara e os grupos de choro. Adriana Moysés, da RFI em Paris A ideia do álbum surgiu da prática cotidiana de Maria Inês com seus alunos de piano e nas oficinas de música de câmara, onde o choro brasileiro é presença constante. “Eu sentia que toda semana estava escrevendo como tocar o choro. É uma transmissão oral, mas o aluno que tem conhecimento teórico queria ver escrito”, conta. Foi assim que, aos poucos, foi reunindo anotações e decidiu transformá-las em um conjunto de sete peças autorais, “escritas de uma maneira clássica para piano, mas de maneira que a pessoa toque e soe já imediatamente brasileiro”. O desafio, segundo ela, foi grande: “Colocar o choro na partitura, com interpretação, fraseado, articulação, tudo que vem de maneira intuitiva, pôr no papel, é muito desafiador, mas eu achei que valia a pena tentar a experiência.” O álbum vai além do piano solo. Maria Inês pensou em formações variadas, abrindo espaço para a liberdade criativa dos intérpretes. “Quem quiser pode formar um grupo com qualquer instrumentista de qualquer área, que vem do jazz ou do clássico, e fazer um arranjo novo, que aí já não vai ser mais o que eu pensei; já é a música que cria a vida nova dela.” Essa abertura ao novo faz parte de sua trajetória. Pioneira no ensino da improvisação livre na França, ela dirige há 20 anos um ateliê dedicado a essa prática. “A improvisação livre parte do som realmente, assim, puro, só um som. Não tem nenhuma linguagem, não é como no jazz ou no choro, que é onde tem um desenho, uma tonalidade, alguma coisa anterior à improvisação.” 'Paris é uma cidade chorona' O choro, aliás, segue sendo uma paixão e uma missão. Uma das fundadoras do Clube do Choro de Paris e do Festival Internacional do Choro, Maria Inês celebra o crescimento do gênero na França: “Hoje em dia, Paris é uma cidade chorona, nós temos rodas, pelo menos três rodas por semana”, destaca. O festival é a ocasião em que músicos do mundo todo se encontram para procurar uma informação segura com os grandes profissionais brasileiros que Maria Inês traz à França. “Isso nos permite também uma formação contínua”, sublinha. E completa com entusiasmo: “Hoje, a França é um país chorão.” Entre os projetos mais recentes da pianista está o ateliê “Fábrica do Choro”, que acontece até 24 de outubro no Conservatório de Anthony, na região parisiense. Durante cinco dias, os alunos aprendem a tocar quatro peças por transmissão oral, “construir as harmonias e fazer os pequenos acompanhamentos, contrapontos rítmicos e melódicos”, culminando em uma apresentação coletiva na próxima sexta-feira (24). A próxima edição do Festival Internacional do Choro já tem data marcada: de 27 a 29 de março de 2026, na Casa do Brasil, na Cidade Universitária de Paris. “São três dias sem parar. São seis concertos e 12 oficinas.” Com sua atuação múltipla — como artista, educadora e difusora cultural —, Maria Inês Guimarães reafirma o choro como linguagem viva, em constante reinvenção. E como ela mesma diz, “a música cria a vida nova dela”.

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Atriz e dramaturga brasileira encerra turnê europeia na França com solo sobre colonização e natureza

10/20/2025
A atriz e performer brasileira Izabel de Barros Stuart está em Paris encerrando a turnê europeia de seu monólogo Le Sol(o) de la Canne à Sucre (O Solo da Cana), espetáculo que estreou no Brasil em 2023 e vem trilhando uma trajetória de sucesso. A peça passou por Portugal — em Porto e Lisboa — antes de chegar à capital francesa. O texto, escrito pela própria artista, parte de uma perspectiva inusitada: a cana-de-açúcar assume a palavra e narra, em primeira pessoa, sua experiência com a colonização. Izabel explica que a ideia surgiu de sua reflexão sobre a temática colonial, já profundamente entrelaçada ao seu engajamento com o ativismo ambiental. “Fiquei procurando de onde vinha a voz que eu poderia expressar esses assuntos. Qual seria o lugar de fala dessa voz?”, conta. Foi então que se deparou com a paisagem de um grande latifúndio privado de monocultura de commodities, o que a levou a escolher a cana-de-açúcar como protagonista. A escolha não foi aleatória. Segundo Izabel, a cana é uma commodity extremamente versátil e consumida globalmente. “Todos nós temos um pouco dessa cana já dentro de nós. Nesse sentido, achei que era um bom lugar para poder tocar as pessoas, já que de alguma forma todos nós já estamos contagiados”, afirma. Para ela, o campo de monocultura é também um campo de colonização. “Essa paisagem da monocultura é um reflexo, um espelho de um pensamento. É esse pensamento que produz uma monocultura, e essa cultura estreita produz um tipo de paisagem que a gente percebe nesse tipo de cultivo — de uma só espécie, em larga escala, de forma repetitiva. Uma paisagem altamente narcísica. Mono.” Com formação em dança, Izabel estudou na Universidade Paris 8, na região parisiense. A transição para a dramaturgia foi, segundo ela, uma verdadeira aventura. “Eu já escrevia, mas nunca tinha me atrevido a levar um texto meu a público. Mas quando comecei essa escrita, pensando sobre esses assuntos, senti que era um texto de voz alta”, revela. Leia tambémAtriz brasileira Melissa Vettore faz turnê na Itália com monólogo 'Prima Facie' Na terra dos colonizadores Engajada há anos com as questões ambientais e os desafios globais, especialmente a crise climática, Izabel sentiu uma urgência em dar voz a esses temas. “Foi de fato uma aventura experimentar isso, que é uma coisa que eu ainda não tinha feito. Escrever uma coisa... Depois que a gente traz o texto passando pelo corpo, traz ele à boca, já é uma outra dimensão. E de experiência mesmo. Foi fruto de uma urgência, de um atrevimento a partir de questões que para mim já estavam me movendo muito.” A artista destaca ainda que o corpo carrega uma escritura própria. “Meu corpo já vinha com um repertório que, em contato com essas temáticas e com a própria paisagem — porque eu fiz uma imersão nesses territórios de latifúndio de monocultura —, isso chega no corpo. Essa pobreza de diversidade, essa monotonia, e essa violência com a terra e com as gentes que trabalham na terra, chega no corpo.” Ao ser questionada sobre como tem sido falar de colonização na terra dos colonizadores, Izabel admite que "tinha um certo receio de qual seria a receptividade, como isso ressoaria na terra dos colonizadores. Ao mesmo tempo, é muito instigante esse movimento: a cana vindo de volta aqui na terra dos colonizadores.” No entanto, ela relata que, pelo menos em Portugal — no Porto e em Lisboa —, encontrou um interesse e uma atenção muito grandes ao tema. “Tivemos retornos muito positivos. Isso me deixou bastante contente e animada para ver como será aqui em Paris. Mas percebi realmente um interesse, uma vontade de escutar essa versão da cana-de-açúcar sobre a colonização. Esse outro lado.”

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Em turnê europeia, Ney Matogrosso revisita cinco décadas de palco e anuncia disco com músicas de Angela Ro Ro

10/15/2025
Em entrevista exclusiva à RFI, Ney Matogrosso comenta a recepção calorosa da turnê europeia e o crescimento de um público jovem e diverso em seus shows. Ele fala sobre a longevidade artística, a relação com a plateia e revela seu próximo projeto: um disco dedicado a Angela Rô Rô, idealizado ainda antes da morte da cantora. Um encontro entre gerações, afetos e reinvenção contínua do eterno "Pavão Misterioso". Márcia Bechara, da RFI em Paris A entrevista com Ney Matogrosso, 84 anos, foi realizada após sua apresentação do show "Bloco na Rua" na casa de espetáculos Les Pyramides, na região parisiense, no domingo (12). O encontro marcou o retorno do artista à capital francesa, após passagens por Portugal e Suíça. Em conversa com a RFI, ele revisitou sua trajetória e revelou novos projetos. RFI: Após o show, no final do bis, já encerrando o espetáculo, você disse: é "Olha, eu não esperava isso aqui hoje." Eu gostaria que você comentasse essa sensação depois do show em Paris. Ney Matogrosso: Eu não esperava porque achei o público anterior, lá em Zurique, um pouco mais reservado — embora eles não tenham sido reservados comigo, não. Mas não era o tipo de reação que eu conheço. De repente, em Paris, eu vi uma coisa que conheço muito bem. Teve manifestações que eu não estava esperando que acontecessem ali. RFI: Você demorou para voltar a Paris. Esse retorno tem a ver com o lançamento mundial da sua cinebiografia aqui na capital francesa, em maio? Ney Matogrosso: Não tem um motivo específico. É preciso que haja pessoas interessadas aqui para me trazer, não é? Eu não acho que o show em si esteja ligado ao evento [lançamento do filme]. Mas estou observando o crescimento de uma plateia muito jovem — adolescentes e até crianças [depois da cinebiografia "Homem com H", dirigida por Esmir Filho]. E está acontecendo uma outra coisa também: em vários lugares onde fizemos o show aqui na Europa, vi pessoas pintadas, como eu me pintava nos tempos dos Secos & Molhados. RFI: A Josephine Baker cantava: "J’ai deux amours, mon pays et Paris", "Eu tenho dois amores, meu país e Paris". Você tem uma história de amor com esta cidade? Ney Matogrosso: Não, nada especialmente. Já vim muitas vezes. Fui muitas vezes ao festival de Montreux, que era na Suíça. Nessas vezes que vim a Montreux, também dava muitas entrevistas para pessoas da França. Fui a rádios francesas e tudo mais. Então, era assim: eu estava por aqui, aproveitava e fazia tudo que me solicitavam. RFI: Você se apresentou na terra da 'chanson française', de Juliette Gréco, Françoise Hardy, Georges Brassens, Édith Piaf e tantos outros. Algum desses cantores, desse universo francês, já te inspirou? Ney Matogrosso: Não sei te responder isso. Mas voltando à Josephine Baker: você sabe que, na primeira vez que fui a Montreux, me compararam a ela? Porque eu ficava quase pelado em cena, eu era um índio. Eles falavam que eu me parecia com a Joséphine Baker, com a Carmen Miranda. E eu dizia: "Gente, eu não tenho nada a ver com isso. Estou em outra história" [risos]. Mas eu entendia: para me compreender, eles tinham que me comparar com essas pessoas. Era o máximo que podiam informar a meu respeito. Eles precisavam etiquetar e catalogar em alguma referência. RFI: São mais de cinco décadas de carreira, contando os tempos dos Secos & Molhados. Há uma evolução técnica, especialmente na questão da voz, que é impressionante em cena. Existe um trabalho por trás disso? Ney Matogrosso: Para a voz, não. É ela que ainda está segurando o tranco. Agora, para o corpo, eu faço ginástica diariamente quando estou em casa. Eu tenho 84 anos, mas continuo dançando igual [risos]. RFI: E se transfigurando, atravessando gerações. Se você pensar bem, as pessoas que estavam nascendo quando você começou sua carreira hoje são pais e avós. Como você vê isso? Vi pessoas emocionadíssimas cantando músicas antigas e jovens no show. Ney Matogrosso: Sim, eles adoram. A "Balada do Louco", por exemplo, eu cantei em 1983. Mas é uma...

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Duo in Uno, formado por violonista brasileiro e saxofonista italiana, lança primeiro álbum em Paris

10/13/2025
Duo in Uno é o encontro entre a saxofonista italiana Giulia Tamanini e o violonista brasileiro José Ferreira. Juntos, eles realizam turnês internacionais explorando um repertório que vai do clássico ao contemporâneo, passando por ritmos como choro, frevo, baião e outros. Após 14 anos de parceria, lançam agora o primeiro álbum em duo. Maria Paula Carvalho, da RFI em Paris O repertório da dupla mistura música popular, erudita e jazz — um universo musical vasto, mas sempre com o Brasil como protagonista. O álbum, intitulado “Nosso Canto”, reúne nove composições de nomes como Egberto Gismonti, Baden Powell, Edu Lobo, Chico Buarque, Hermeto Pascoal, Paulinho da Viola, entre outros. “Essa é uma longa história de parceria, de música e de vida juntos”, diz José Ferreira. “Somos um casal, eu e a Giulia, há 14 anos, e temos muita experiência, muitas aventuras”, completa. “Neste álbum, fazemos um painel amplo de todas as músicas que adoramos — grandes influências da nossa trajetória”, acrescenta. “Tem repertório para quem gosta de jazz, para quem aprecia canção, e também música puramente instrumental”, resume. Encontro em Paris Giulia nasceu em Trento, na Itália, em uma família apaixonada por música. Começou a tocar saxofone aos oito anos de idade, antes de ingressar no Conservatório e aprofundar sua formação com artistas internacionais como Federico Mondelci, Fabrizio Mancuso e Jean-Denis Michat. Em 2012, movida pelo desejo de aperfeiçoar sua arte, mudou-se para Paris para estudar. Na capital francesa, teve a oportunidade de colaborar com diversos artistas, entre eles o violonista brasileiro José Ferreira — um encontro marcante que deu origem ao Duo in Uno. “Logo depois conheci o José, que me apresentou à música brasileira. Antes, eu conhecia a bossa nova, mas não muito da música instrumental”, conta. “Começamos a tocar juntos e a frequentar lugares onde se toca música brasileira, como rodas de choro e de samba”, completa. As inúmeras viagens ao Brasil enriqueceram sua experiência e alimentaram sua paixão pela música brasileira. “Na prática, temos bastante experiência tocando juntos, porque além do duo, também atuamos em outros grupos, como trios”, explica Giulia. “Acho que a alquimia vem desse laço de cumplicidade que temos”, destaca. José Ferreira é natural de São Paulo e foi criado em Goiânia, onde começou a aprender violão de forma autodidata. Já morou em países como Argentina, Estados Unidos, Holanda e França — experiências que lhe permitiram descobrir novas harmonias e parcerias musicais. Radicado em Paris desde 2005, José obteve seu diploma de concertista pela École Normale de Musique da capital francesa em 2008. Sua carreira e discografia refletem um músico versátil, que transita com facilidade entre formações solo, duo, trio e concertos com orquestra. “O nosso duo surgiu antes do trio, mas trabalhamos bastante em trio”, explica José. “É importante dizer isso, pois já gravamos três álbuns nesse formato. Fizemos muitos concertos pelo mundo, e o duo foi existindo paralelamente, fazendo apresentações. Mas o projeto discográfico sempre esteve muito centrado no trio”, conta. “Agora surgiu uma janela de oportunidade e resolvemos aproveitar para realizar esse sonho antigo: nosso primeiro CD em duo”, comemora. Além do trio com o violoncelista Pablo Shinke, Giulia e José já se apresentaram em Paris com o acordeonista Bebê Kramer. Também tocaram com outros grandes nomes da música brasileira. “Isso eu considero uma grande sorte, um presente da vida”, diz Ferreira. “Tivemos a oportunidade de conhecer pessoalmente músicos que admiramos, como Yamandu Costa e Zé Luiz Nascimento. Fizemos várias parcerias ao longo da vida”, continua. “Essa proximidade nos traz um reconforto musical e espiritual muito bacana”, acrescenta. O duo costuma se apresentar no Brasil ao menos uma vez por ano, durante as férias de verão europeu. “Para nós, é muito importante esse retorno, porque tocamos música brasileira. Então, é muito especial se...

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Alckmin à RFI: ‘Brasil e Índia têm tudo para ampliar comércio e cooperação’

10/7/2025
Nos dias 16 e 17 de outubro, o vice-presidente brasileiro, Geraldo Alckmin, lidera uma grande missão empresarial a Nova Déli, na Índia. Enquanto renegocia os termos de sua relação com os EUA, o Brasil aposta na abertura de novos mercados. O indiano, embora não seja propriamente novo, tem grande potencial, por ser muito fechado, o que explica em boa medida o fato de as trocas comerciais estarem muito aquém do que deveriam. Vivian Oswald, correspondente da RFI em Brasília À RFI Brasil, Alckmin, que também acumula a pasta do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, destacou oportunidades no Complexo Industrial da Saúde, em especial, medicamentos — a Índia é um dos maiores produtores de genéricos do mundo, de biocombustíveis e SAF, a sigla em inglês para o combustível sustentável para a aviação. O vice-presidente também ressaltou os setores de aeronáutica, com a iminência de a Embraer abrir um escritório na capital indiana, defesa e tecnologia. Segundo Alckmin, a Câmara de Comércio Exterior, a Camex, aprovou a possibilidade de negociar a ampliação das linhas tarifárias com a Índia. Hoje, existem apenas 450 de cada lado. Em 2014, o comércio bilateral bateu os US$ 11,5 bilhões. No ano passado, uma década depois, ainda não chegava a US$ 12 bilhões. Esta é a quarta missão comercial comandada por Alckmin, depois de China, Arábia Saudita e México, antes de uma visita de Estado do presidente Lula. Leia os destaques da entrevista: RFI: Bom dia, presidente, o senhor acha que o contexto geopolítico e o fato de Brasil e Índia terem recebido as tarifas mais altas aplicadas pelos EUA, de 50%, aproximam os dois países? De que forma? Geraldo Alckmin: Eu estou indo à Índia com o espírito de abrir mercado e aumentar o comércio. Nós podemos ter muita complementariedade econômica, investimentos recíprocos. A Índia é o país mais populoso do mundo, uma grande economia, das maiores economias do mundo. O Brasil é a maior economia da América Latina. Este ano, de janeiro a maio, nossas exportações para a Índia cresceram quase 15%, e as importações, mais de 31%. Então nós temos aí um comércio exterior em forte crescimento e vamos também preparar a viagem do presidente Lula à Índia, prevista para fevereiro do ano que vem. RFI: Há apenas 450 linhas tarifárias de lado a lado, o que é considerado muito pouco para dois países do tamanho de Brasil e Índia. Onde há chances de aumento do comércio? Em medicamentos, eles são grandes produtores de genéricos, etanol, o programa da Índia tem crescido, assim como a mistura na gasolina, e petróleo. Por que eles importam muito da Rússia e somente 1% do Brasil? G.A.: Olha, a Câmara de Comércio Exterior (Camex), ela aprovou a possibilidade de negociar a ampliação das linhas tarifárias com a Índia. Então, nós queremos aumentar o livre comércio. Nós temos mais áreas onde a gente possa chegar ao livre comércio. Áreas importantes de cooperação com grande potencial. Uma que eu destacaria é o Complexo Industrial da Saúde, especialmente o farmacêutico, que a Índia tem uma indústria farmacêutica muito avançada. Então, a cooperação em saúde é estratégica. A outra é biocombustíveis. Aliás, a produção de SAF (Sustainable Aviation Fuel), tem três países que têm um enorme potencial. Brasil, Índia e Estados Unidos. São os três que podem ser os campeões na produção do SAF, do combustível sustentável da aviação. A Índia está estabelecendo uma meta de 20% de etanol na gasolina. O Brasil já tem 30% de etanol na gasolina. E temos 15% de bio no diesel. Então temos um enorme potencial em biocombustíveis. RFI: Que outros setores oferecem oportunidades para novos negócios, presidente? G.A.: Também na área de defesa. Tem uma possibilidade boa de ampliação. Tecnologia. Enfim, o setor do agro é um setor importantíssimo, tem inúmeras oportunidades para fortalecermos o nosso comércio exterior e investimentos. RFI: E que acordos podem sair desta missão empresarial? G.A.: Olha, a Embraer, por exemplo, vai inaugurar seu escritório em...

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Em livro lançado na França, Dedê Fatumma compartilha experiência de resistência como lésbica negra

10/3/2025
“Acredito que as mulheres francesas poderão se identificar com as minhas vivências e, quem sabe, encontrar força em nossas histórias de resistência”, afirma Dedê Fatumma, a escritora e poeta baiana que acaba de lançar na França a versão traduzida de seu livro "Lesbiandade", agora intitulado "Le Lesbianisme", pela editora Anacaona. Adriana Moysés, da RFI em Paris O título, publicado na coleção francesa "A diversidade de vozes brasileiras", é um manifesto político, afetivo e teórico sobre a vivência lésbica, com um olhar especial para as mulheres negras. Dedê compartilhou, em entrevista à RFI, sua trajetória e expectativas em relação a esse novo público. Ao ser questionada sobre como recebeu o convite para lançar "Lesbiandade" na França, Dedê não escondeu sua emoção. “Primeiramente, quando eu recebi a notícia, eu não acreditei. A Djamila Ribeiro, que é a nossa presidenta, me ligou falando que a Paula, a editora aqui na França, tinha gostado muito e que eu iria lançar.” Para ela, essa experiência é mais do que uma conquista pessoal; é um eco de resistência para outras mulheres negras. Mestre em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo pela Universidade Federal da Bahia, Dedê também atua como assistente social em Salvador, focando na população LGBTQIAPN+ e nas discriminações que enfrentam no cotidiano. Em contato com essas populações, ela constata que as violências interseccionais de gênero, classe e raça reforçam a exclusão social. A abordagem da autora sobre a lesbianidade vai além do que é normalmente abordado. "A lesbiandade não se restringe a uma identidade apenas. O fato de você ser negra e lésbica traz alguns atravessamentos na perspectiva política, econômica e social, interditando, inclusive, a sua existência", explica. "Quando a gente fala de mulheres lésbicas, não se restringe a quatro paredes, à orientação sexual, à questão afetiva", destaca. Segundo Dedê, no Brasil, as mulheres lésbicas enfrentam barreiras adicionais em sua luta por direitos e espaços de poder. A realidade da discriminação A escritora ressalta que a discriminação enfrentada por essas mulheres é complexa e multifacetada. “É muito fácil você andar nas ruas de Salvador e ver mulheres lésbicas que não performam uma feminilidade hegemônica, e que infelizmente estão fora do mercado de trabalho”, comenta. Para Dedê, essa marginalização é reforçada por uma estrutura patriarcal, que interage com outras formas de opressão, como o racismo e a desigualdade de classe. A luta de Dedê vai além da simples narrativa; ela denuncia o que chama de “sistema cisnormativo”. “Sabemos que estruturas são constituídas por pessoas que violentam. Pessoas cisgêneras brancas que, infelizmente, são LGBTfóbicas e instituições racistas”, afirma. Ela critica a forma como a violência contra mulheres, especialmente as negras e lésbicas, é frequentemente deslegitimada, com abordagens do tipo: “O que você fez para apanhar?” Um legado de resistência Dedê reconhece que não está sozinha nesse caminho. “Eu não fui a primeira. Nossos passos vêm de longe. Estou falando de Valdecir Nascimento, Heliana Hemetério, Dai Costa, entre outras lésbicas negras. Meu livro fala muito sobre mim, mas também sobre essas mulheres que continuam nessa trincheira”, enfatiza. A escritora também faz uma reflexão sobre os desafios contemporâneos. “Há uma corrente conservadora hegemônica que ataca os estudos de gênero. No meu livro, eu trago um capítulo que fala sobre rasurar as histórias mal contadas sobre nós”, revela. Para Dedê, construir narrativas contra-hegemônicas é uma tarefa difícil, mas necessária. Uma mensagem para o futuro Ao se dirigir às leitoras francesas, Dedê compartilha uma mensagem poderosa. “A teoria também acontece de outras formas, na música, na vida. A trajetória da mulher negra não é apenas lida, mas vivida.” Ela acredita que é crucial que as teorias não fiquem restritas ao espaço acadêmico, mas que se expandam para a vida cotidiana, trazendo uma nova...

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Médica brasileira apresenta em Paris estudo sobre aplicativo da OMS para diagnosticar hanseníase

10/1/2025
A dermatologista e professora de Medicina da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Patricia Deps, é membro do grupo de assessoramento técnico do Programa Global de Hanseníase da Organização Mundial da Saúde (OMS), e vice-presidente do setor Américas da International Leprosy Association. No Congresso anual da Academia Europeia de Dermatologia e Venereologia, realizado em Paris de 17 a 20 de setembro, ela conversou com a RFI sobre um estudo que coordenou sobre a precisão de um aplicativo que usa a Inteligência Artificial (IA) para identificar doenças de pele. A ferramenta foi lançada pela OMS em 2023 e já está funcional em versão beta. O objetivo, no futuro, é que os algoritmos da IA deste aplicativo detectem cerca de 20 doenças, entre elas 12 cutâneas consideradas doenças tropicais negligenciadas, como a hanseníase. Deps coordenou a curadoria de um banco de imagens coletadas durante cerca de 30 anos, e a validação de algoritmos para verificar a precisão da tecnologia do aplicativo para diagnósticos. O trabalho foi realizado com o apoio de uma equipe de dermatologistas especialistas em hanseníase no Brasil, na Nigéria e com a parceria da OMS. O resultado foi positivo, destaca a médica: “Os algoritmos performaram bem e houve espaço para retreino, porque eles podem ser retreinados e podemos guiar como isso pode ser feito, dizendo onde ele errou, para que ele melhore sua performance”. Segundo Deps, o objetivo é que o aplicativo seja usado no mundo inteiro. O download dele já está disponível para smartphones, com versão em vários idiomas, atualmente com a função educativa, no aguardo do formato que incluirá os diagnósticos por meio da IA. “Por exemplo, se você quer pesquisar sobre leishmaniose, o aplicativo tem um mapa da distribuição geográfica, aborda aspectos clínicos, oferece imagens das lesões. O objetivo é ajudar a população em geral e os profissionais da saúde”, diz. Ainda na atual versão, o aplicativo conta com informações como formas de detecção de doenças, exames que podem ser feitos, medicamentos a serem utilizados, quais serviços hospitalares disponíveis, entre outros. “É uma ferramenta extremamente rica para o processo de educação em saúde. Quando for liberada a parte da Inteligência Artificial, também poderemos contar com esse suporte para diagnóstico”, destaca. Desafio para especialistas e pesquisadores Deps lembra que a hanseníase é endêmica em vários países e o Brasil é o segundo com o maior número de casos, ficando atrás apenas da Índia. “É uma doença extremamente estigmatizante com uma capacidade altíssima de causar incapacidades físicas e mentais”, diz. “ Conhecida por ser uma das doenças mais antigas da humanidade, seu agente infeccioso foi identificado em 1873 pelo dermatologista norueguês Gerhard Armauer Hansen. A patologia também tem um trágico histórico de marginalização, exclusão e segregação das pessoas afetadas por ela ao longo de séculos. “Por isso, ela demanda um diagnóstico precoce e esse aplicativo vem exatamente com este objetivo: acelerar a detecção desta doença, principalmente em países com um número baixo de especialistas ou que têm pouco treinamento para profissionais de saúde reconhecê-la”, reitera. Deps lembra que a hanseníase ainda é um desafio para a comunidade científica, apesar da evolução das tecnologias, pesquisas e tratamentos, como a poliquimioterapia instituída pela Organização Mundial da Saúde nos anos 1980. “A gente não conseguiu ainda eliminar a doença do planeta”, lamenta. “Essa doença está presente em todo o território brasileiro de forma heterogênea. Mas ela é negligenciada pelo poder público, pelos próprios profissionais de saúde, porque a indústria não tem interesse de produzir medicamentos e testes de diagnósticos sofisticados, então a gente não consegue avançar tanto”, reitera. A médica destaca as consequências de um diagnóstico tardio da hanseníase, entre elas, danos neurais irreversíveis, que muitas vezes acontecem simultaneamente às lesões cutâneas....

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Festival de Biarritz recebe 'O Último Azul', filme de Gabriel Mascaro premiado em Berlim

9/24/2025
Em cartaz no Brasil desde 28 de agosto, onde já foi visto por mais de 140 mil pessoas, O Último Azul, longa-metragem do diretor pernambucano Gabriel Mascaro, teve pré-estreia francesa no Festival de Cinema Latino-Americano de Biarritz, antes de entrar em exibição no país, em fevereiro do ano que vem. A RFI conversou com o cineasta no evento sobre o sucesso dessa produção, que ganhou o prêmio do júri no Festival de Berlim e foi apresentada, também, em sessões especiais em Toulouse e no Festival Brésil en Mouvement, em Paris. Maria Paula Carvalho, enviada especial da RFI a Biarritz Gabriel Mascaro conta que o longa-metragem já foi vendido para 67 países e está passando em mais de 80 festivais internacionais pelo mundo. O filme conta a história de Tereza, de 77 anos, personagem interpretada por Denise Weinberg, que viveu toda a sua vida em uma pequena cidade industrializada na Amazônia, até o dia em que recebe uma ordem oficial do governo para se mudar para uma colônia para idosos. Porém, ela se recusa a seguir a política de exílio forçado, como explica o diretor. “É quase uma distopia. A gente criou uma alegoria de situações e tem até uma espécie de carrocinha de cachorro que leva os idosos embora para a colônia”, diz. “O filme tenta especular esse Brasil que tira os idosos da sociedade para que os jovens possam produzir sem se preocupar com os mais velhos. E, na verdade, termina falando sobre um sentimento de liberdade”, continua. Protagonismo na terceira idade O enredo também faz um alerta de que a vida não termina na terceira idade, quando muitos falam do fim. Ao partir em uma aventura sem rumo, a personagem Tereza acaba se redescobrindo. “Existem pouquíssimos filmes no mundo que falam sobre protagonistas idosos”, destaca Mascaro. “Em geral, são associados a personagens lidando com a morte em estado terminal ou, às vezes, sobre nostalgia e sobre os gloriosos tempos que passaram e que não voltam mais”, acrescenta. “Esse é um filme sobre o presente. Ele olha para essa mulher que deseja e que pulsa, que transpira vontade de viver”, completa. A Amazônia em foco Além disso, o filme mostra para o grande público do cinema a força da floresta Amazônica, com as suas lendas, seu misticismo, e com a sua economia própria: uma vida que acontece de barco, em cima de passarelas, e que Mascaro fez questão de retratar. “Eu queria fazer um filme sobre esse lugar, esse rio que você pode tanto se perder como se achar”, observa o diretor. “É um lugar quase mítico e um palco muito especial para acontecer essa fantasia, para olhar para a Amazônia de maneira diferente”, explica. “O filme começa em um frigorífico de carne de jacaré. Então, ele vai mostrando, de maneira muito singular, um Brasil que a gente não está acostumado a ver”, afirma Mascaro. Ao longo da trama, o espectador é apresentado à sabedoria do "Caracol Azul", uma referência às medicinas da floresta. “Em um determinado momento, o personagem do Rodrigo Santoro pinga a baba do caracol no olho. Isso abre caminhos e torna possível ver o futuro”, ele explica. “É inspirado na fauna e na flora psicotrópica da Amazônia. Mas a gente preferiu criar o nosso próprio elemento, não quisemos usar nada que pudesse ser sagrado para algum povo indígena. A gente criou a nossa própria alegoria como uma inspiração do que já acontece”, diz o diretor. O convite para a participação de Rodrigo Santoro aconteceu de forma natural. Gabriel Mascaro conta que o ator assistiu a seu filme Boi Neon (2015) e que o ator sinalizou o desejo de atuar em uma de suas produções. “Quando eu escrevi esse personagem, eu claramente pensei nele. E foi um carinho muito grande ver o Rodrigo Santoro aceitar esse projeto e o mergulho que ele deu no personagem. Foi muito bonito”, avalia. Sucesso do cinema brasileiro no exterior Gabriel Mascaro diz que não esperava um sucesso tão grande logo no lançamento de “O Último Azul”. O diretor também comentou o interesse renovado pelos cineastas brasileiros no exterior. “A gente...

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O Brasil e a ONU aos 80 anos: entre a esperança ambiental e a crise multilateral que trava o mundo

9/23/2025
A ONU está completando 80 anos, em meio a uma grave crise estrutural e financeira, entre guerras na Ucrânia, na Faixa de Gaza, no Sudão e outras partes do mundo. A participação do Brasil na Organização das Nações Unidas (ONU), sua busca por maior influência, seu papel crucial nas pautas ambientais, os desafios que a organização enfrenta e a importância contínua da ONU no cenário global são temas centrais abordados pela historiadora Carolina Aguiar, professora no Instituto de Relações Exteriores da USP. Patrícia Moribe, de Paris “A ONU foi criada no final da Segunda Guerra Mundial com o objetivo de manter a paz e evitar conflitos de dimensões globais, tendo sido bem-sucedida em prevenir uma guerra direta entre as grandes potências”, explica a especialista. O Brasil se destaca como um dos 51 membros fundadores da ONU em 1945, evidenciando seu compromisso com a organização desde o princípio. “Desde 1947, o país tem a distinção de ser o primeiro a discursar na Assembleia Geral da ONU, um fato simbólico que lhe confere uma certa voz na organização". Apesar de sua atuação e projeção, o Brasil tem uma "histórica reivindicação" por uma participação mais ativa no Conselho de Segurança da ONU, composto por cinco membros fixos (China, Reino Unido, Estados Unidos, Rússia e França), que detêm o direito de veto, além de membros rotativos. No entanto, a modificação da Carta da ONU para ampliar o número de nações com assento no Conselho é um processo "bastante burocrático e improvável", exigindo a aprovação de dois terços dos votos dos países-membros e a concordância do próprio Conselho de Segurança, um cenário que parece "muito improvável", para a historiadora. Aguiar levanta dúvidas sobre a eficácia de uma ampliação do Conselho no formato atual, citando a situação na Palestina como um exemplo claro da paralisia causada pelo veto de países aliados, especialmente os Estados Unidos, que são parceiros históricos de Israel, e que têm agido como um "grande entrave" para qualquer ação mais efetiva da ONU em certos contextos. Os vetos cruzados no Conselho de Segurança impedem ações eficazes em crises como as do Oriente Médio e da Ucrânia. A ineficácia da ONU em conflitos, como os de Gaza e em outros locais como Nagorno-Karabakh, Sudão ou Níger, tem gerado desconfiança e questionamentos sobre sua relevância. Brasil no protagonismo ambiental Em um dos pilares mais urgentes da agenda global, o Brasil é reconhecido como um "país-chave" para as questões climáticas e o desenvolvimento sustentável, devido principalmente à vasta porção da Amazônia em seu território, explica a historiadora. A relevância do país é demonstrada por receber conferências da ONU, como a Rio 92, e pela preparação para sediar a COP 30, o que indica que o Brasil é visto como essencial para "atingir os objetivos climáticos e relacionados a um desenvolvimento sustentável". Carolina Aguiar observa uma "certa descrença no papel da ONU", que ela associa a uma crise generalizada de organismos multilaterais e à ascensão da extrema direita. Existe uma preocupação real com a potencial saída dos Estados Unidos – que historicamente é o maior financiador da organização – de instâncias da ONU, como a Organização Mundial da Saúde (OMS), e de acordos como o de Paris. Apesar deste panorama desafiador, Aguiar ressalta a importância de ainda "reivindicar esse espaço da ONU", que permanece um "lugar de encontro, de diálogo e um lugar de desenvolvimento de programas fundamentais". Ela menciona o papel crucial da OMS na pandemia de Covid-19 e a necessidade contínua de abordar guerras, potenciais novas pandemias e as drásticas mudanças climáticas.

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'Temos um Congresso comprometido com outras pautas que não o futuro do país”, critica cineasta Sandra Kogut

9/22/2025
A convite do Fórum das Imagens de Paris, a cineasta brasileira Sandra Kogut veio à capital francesa para exibir seu documentário “No Céu da Pátria Nesse Instante”, que retrata a crise política no Brasil durante a campanha às eleições de 2022 e os atos golpistas de 8 de janeiro do ano seguinte. Ela condenou duramente a aprovação da PEC da Blindagem e as articulações de deputados para aprovar uma anistia ou redução das penas aplicadas pelo STF contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros sete réus por tentativa de golpe de Estado. Adriana Moysés, da RFI em Paris No longa “No Céu da Pátria Nesse Instante”, Sandra documenta os meses mais tensos da história política recente do Brasil. Ela lamenta que, enquanto parte da sociedade ainda comemorava o avanço da Justiça, com a condenação de Bolsonaro a 27 anos de prisão, o Congresso já se mobilizava para tentar reverter a decisão. “A gente mal teve tempo de comemorar plenamente esse fato histórico. O Congresso já estava se articulando para tentar fazer essa anistia. É um momento bem complicado no Brasil, porque temos um Congresso completamente comprometido com outras pautas que não o futuro do país”, afirma. Kogut destaca que o país paga, até hoje, o preço por não ter enfrentado devidamente os crimes da ditadura militar. Para ela, a condenação de Bolsonaro representa uma oportunidade única de o Brasil se comprometer de forma profunda com a democracia. “O Brasil não foi capaz de fazer isso naquele momento e pagou um preço anos depois, porque ficou um pedaço da história mal resolvida. Agora, essa condenação é a oportunidade do país conseguir realmente se comprometer com a importância da democracia para garantir um presente e um futuro”, avalia. A cineasta acredita que seu filme pode funcionar como resistência ao apagamento histórico promovido por setores do Congresso. “Mesmo na época em que eu estava fazendo o filme, a vontade de realizá-lo nasceu um pouco disso. As notícias eram tão inacreditáveis que você até esquecia o escândalo da semana anterior. Pensei: talvez, se colocarmos esses instantes lado a lado, seja mais fácil entender o que estamos vivendo”, explica. Para Kogut, o filme ganha novas camadas à medida que o tempo passa e mais fatos vêm à tona. No documentário, o espectador acompanha personagens de diferentes regiões e espectros políticos do Brasil, mostrando realidades paralelas durante a crise democrática. Sandra Kogut destaca que o documentário não faz uma análise, mas mergulha na tensão e no medo vividos por todos, independentemente do lado político. O filme revela como pessoas com visões opostas consomem informações completamente diferentes e como é difícil criar diálogo entre esses mundos, mostrando a dificuldade de comunicação e compreensão mútua em um país polarizado. Diálogo com outros países O impacto da produção, segundo ela, é sentido tanto no Brasil quanto no exterior. “O filme é um pouco um ser vivo, porque registra um momento chave e vai ressoando de maneiras diferentes à medida que o tempo passa. Viajei um ano e meio com esse filme, fui para lugares muito diferentes – Coreia do Sul, Espanha, França. Eu chegava nesses lugares e percebia que aquilo dialogava diretamente com o que aquele país estava vivendo”, relata. Ela observa que o fenômeno da extrema direita e da desinformação não é exclusivo do Brasil, mas parte de uma corrente internacional que ameaça democracias consolidadas. Kogut ressalta que o filme se diferencia por não ser uma análise fria, mas por acompanhar personagens comuns, o que facilita a identificação do público. “A política no dia a dia das pessoas, na escola, dentro de casa, na rua. Acho que as pessoas se reconhecem ali e reconhecem coisas que estão vendo acontecer em seus países”, diz. 'Não adianta cancelar' Sobre o desafio da desinformação, a cineasta relata o impacto das campanhas articuladas nas redes sociais. “Era muito impressionante, porque para qualquer coisa que eu dissesse, alguém já tinha feito um vídeo para...

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Homenageado em Biarritz, Kleber Mendonça Filho celebra reconhecimento internacional

9/21/2025
Um dos diretores brasileiros de maior projeção no cenário internacional, Kleber Mendonça Filho vive um momento de grande realização na carreira. O Agente Secreto, dirigido por ele e selecionado para representar o Brasil na busca por uma vaga entre os indicados ao Oscar 2026, abriu o Festival de Cinema Latino-Americano de Biarritz no sábado (20). O cineasta pernambucano é o grande homenageado do evento, que acontece até sexta-feira (26) no sudoeste da França, onde ele conversou com a RFI. Maria Paula Carvalho, enviada especial da RFI a Biarritz Kleber Mendonça é considerado uma espécie de “embaixador do cinema nacional” e porta-voz dos brasileiros em Biarritz. Nesta 34ª edição, ele recebeu o prêmio "Abraço de Honra", que celebra o talento de artistas e intelectuais que representam a América Latina. “Eu sempre tive uma referência pessoal de Biarritz, muito antes de conhecer o festival, e para mim foi uma grande honra. Acho que esse é um dos troféus mais lindos que já recebi”, comentou neste domingo (21), em entrevista à RFI. O Agente Secreto (2025) estreou no Festival de Cannes, onde ganhou os prêmios de melhor diretor e melhor ator para Wagner Moura. Agora, a produção disputa um lugar entre os dez indicados a Melhor Filme Internacional no Oscar, a maior premiação do cinema. “A cada dia eu me surpreendo mais. Estamos muito felizes com a trajetória do filme. De fato, ele estreou no Festival de Cannes e saiu de lá com prêmios muito importantes. Tenho viajado desde então com esse filme pelo mundo inteiro, e agora ele entra em dois ou três momentos muito importantes, que são os lançamentos em salas de cinema na Europa”, afirma. O diretor destaca também o lançamento brasileiro, no dia 6 de novembro. Além disso, menciona a temporada dos prêmios na América do Norte, nos Estados Unidos. "Começamos muito bem em Telluride [Colorado] e Toronto, no início de setembro, e agora vem o Festival Internacional de Nova York. São muitas frentes, e eu tento acompanhar o filme da melhor forma possível”, comenta. Longa ambientado no Recife em 1977 O Agente Secreto se passa no Recife em 1977 e explora as tensões políticas da época da ditadura militar. “Esse passado é, em parte, pessoal, porque eu tinha nove anos na época. Lembro do clima, da atmosfera, do cheiro de 1977”, conta. “Além disso, tem todo o meu conhecimento histórico, histórias que ouvi e que me contaram, as pesquisas que fiz em jornais, as fitas que ouvi. Tudo isso me leva a um panorama do nosso país que considero muito importante contar”, completa. Na trama, Wagner Moura vive o personagem Marcelo, que representa um dos muitos brasileiros perseguidos pelo regime militar. “Cheguei a essa história observando uma lógica que pode existir em qualquer país que passa por um regime autoritário”, explica o diretor. “Costumo dizer que O Agente Secreto tem a lógica do Brasil. Existem muitas histórias de profunda injustiça no nosso país, infelizmente”, destaca Kleber. O cineasta pernambucano diz ter buscado inspiração no filme Cabra Marcado para Morrer (1984), de Eduardo Coutinho. “Se você assistir àquele filme, verá que ele tem a lógica do nosso país. É uma lógica de profunda injustiça. Mas é o tipo de narrativa sobre o Brasil que me interessa muito”, diz. "Em O Agente Secreto, quis desenvolver algo que fosse muito autêntico, muito humano, que tivesse muito amor, mas que também tivesse essa lógica extremamente cruel do nosso país”, explica. O filme apresenta elementos de realismo fantástico, como a história da perna humana encontrada dentro de um tubarão. Kleber explica: “Essa história da perna cabeluda não é uma criação minha. É uma lenda urbana que surgiu nos anos 1970 como um antídoto do jornalismo para poder contar histórias que não estavam sendo permitidas por causa da censura”. Ele detalha: “Se alguma coisa acontecia envolvendo a polícia e situações de violência — seja de homofobia ou de preconceito — quando a polícia chegava num parque e espancava as pessoas, como os jornalistas não...

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'A COP30 acontece no melhor momento para mostrar o que está em jogo na Amazônia', diz filha de Chico Mendes

9/19/2025
Durante o festival Brésil en Mouvements, em cartaz até sábado em Paris, o documentário Empate (2019), de Sérgio de Carvalho, resgata a luta de Chico Mendes e dos seringueiros do Acre pela preservação da Amazônia. A RFI entrevistou Ângela Mendes, filha do líder ambiental assassinado em 1988 e presidenta do Comitê Chico Mendes, que foi convidada para um debate sobre o legado do pai e os desafios atuais da causa socioambiental brasileira. A menos de dois meses do início da COP30, em Belém, Ângela destacou a importância de manter viva a memória da resistência dos povos da floresta. “Quase 40 anos depois do assassinato do meu pai, ainda precisamos continuar resistindo”, afirmou. "O filme continua muito atual", lamentou. Segundo a ativista, os ataques aos territórios indígenas e tradicionais continuam, impulsionados por um sistema “extremamente capitalista e neoliberal”, que impõe violência sobre as populações locais. “Esses territórios ainda são muito ameaçados pela ambição e pela cobiça. As populações que vivem neles estão à margem do acesso a políticas públicas estratégicas para garantir seu bem viver.” Ela reconhece os desafios enfrentados pelo governo Lula diante de um Congresso hostil às pautas socioambientais. “Nunca vi um governo com mais dificuldade de fazer um mandato coerente com sua trajetória. Lula está tensionado por todos os lados por forças de extrema direita”, disse. “A própria ministra Marina Silva, uma mulher negra da Amazônia, sofre as piores violências dentro daquele Congresso.” Apesar das dificuldades, Ângela vê a realização da COP30 na Amazônia como uma oportunidade histórica para colocar os povos da floresta no centro da discussão climática. “A COP está acontecendo no melhor momento, no melhor lugar, para trazer aos olhos do mundo o que está acontecendo na Amazônia – e não só na brasileira.” “O Brasil continua entre os países que mais matam ativistas ambientais, e isso precisa mudar”, destaca. Contradições da União Europeia Durante a entrevista, Ângela também fez duras críticas à atuação da União Europeia. Segundo ela, embora o bloco mantenha um discurso diplomático pró-preservação, os países europeus têm falhado em oferecer apoio efetivo às comunidades amazônicas. Ela denuncia que, em meio ao cenário global de guerras, como as da Ucrânia e de Gaza, recursos que antes eram destinados a organizações locais foram redirecionados para gastos militares, agravando a crise climática e humanitária. Ela também apontou a contradição de países como Noruega e Alemanha, principais financiadores do Fundo Amazônia, que mantêm empresas atuando na região com impactos negativos sobre a saúde das populações locais e o meio ambiente. “É como se a doação ao fundo fosse uma compensação pelos danos causados, mas não há como compensar vidas perdidas ou rios poluídos”, afirmou. Ângela Mendes defende que os territórios protegidos e os saberes tradicionais são parte essencial da solução para a crise climática, mas ainda não são reconhecidos como tal. Ela pede que a população europeia pressione seus governos, bancos e empresas para que deixem de financiar o desmatamento e a violência contra os povos da floresta, e que acordos comerciais como o Mercosul-União Europeia garantam uma comercialização justa dos produtos amazônicos.

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Em 'romance musical', Antonio Interlandi destaca a potência sonora de dois pianos no palco

9/17/2025
O ator, diretor e produtor goiano Antônio Interlandi, radicado na França, estreia no dia 23 de setembro o espetáculo “Deux pianos et le regard perdu vers la mer” (“Dois pianos e o olhar perdido no mar”, em tradução livre), parte da programação da temporada cultural Brasil-França. Com direção da atriz e cineasta portuguesa Maria de Medeiros, a montagem propõe uma experiência musical e poética que transcende o formato convencional de um recital. No palco, Interlandi interpreta cerca de 20 canções – brasileiras, francesas, americanas e italianas – que falam de amor, separação, celebração, alegrias e desilusões. Acompanhado pelos pianistas Suzanne Ben Zakoun e Mathieu El Fassi, o espetáculo se constrói como um romance musical, onde cada canção é entrelaçada por textos curtos, como cartões postais, que revelam a jornada emocional do personagem. “Não é um musical, mas também não é só um recital. Há uma história que se desenrola entre as canções, como se o personagem estivesse em viagem, escrevendo cartas enquanto supera uma 'dor de coração'”, explica Interlandi. A ideia do espetáculo nasceu da parceria artística entre o ator brasileiro e o pianista francês Mathieu El Fassi, que já trabalharam juntos em projetos anteriores, como o célebre musical intimista “Ciao Amore Ciao”, que reinventava o universo do poeta Luigi Tenco, ícone da música italiana. Desta vez, em “Dois pianos”, a inspiração de Interlandi veio do disco “Valsa brasileira”, de Zizi Possi, que escutava na adolescência. “Nesse disco maravilhoso, histórico, muitas das canções eram arranjadas para dois pianos. Eu ficava muito maravilhado com o som, a possibilidade de harmonia e orquestral que os dois pianos traziam.” A facilidade e a criatividade de El Fassi para a execução dos arranjos mostrou que a dupla estava na boa direção. “Começamos pela música, sem compromisso com produção. Trabalhamos quase um ano nos arranjos, que trouxeram uma modernidade e uma nova leitura para canções conhecidas e outras menos exploradas”, conta o artista. O repertório inclui obras de Chico Buarque, Georges Brassens, Jacques Brel, Claude Nougaro, Cole Porter e até trechos de musicais de Stephen Sondheim. Algumas canções ganham versões que reforçam o diálogo cultural entre Brasil e França. A cenografia é minimalista e intimista: dois pianos dominam o palco, iluminados por uma luz cuidadosamente desenhada, que guia o público pela narrativa emocional do espetáculo, sem distrações visuais. "Chamei um imenso iluminador francês de origem portuguesa, que é o Antonio de Carvalho, e a Nadia Luciani, que está vindo do Brasil para participar com a gente desse projeto", conta Interlandi. Com ampla experiência em espetáculos de artistas renomados, como Cirque du Soleil e Ray Charles, entre outros, Carvalho “trouxe aquela pincelada que faltava”, destaca o ator brasileiro. A chegada de Maria de Medeiros à direção foi decisiva para dar forma teatral ao projeto. Segundo Interlandi, a atriz mergulhou no universo do espetáculo e trouxe o olhar necessário para transformar a sequência de músicas e textos em uma experiência cênica coesa. “Ela conhece profundamente esse repertório e conseguiu criar um espaço teatral possível, mesmo sem ser uma peça de teatro convencional. A simplicidade e o contato direto com o público foram fundamentais”, afirma. “Deux Pianos et le regard perdu vers la mer” promete ser um mergulho sensível e sofisticado na música e na emoção, conduzido por um artista que transita com fluidez entre diferentes linguagens e culturas. O espetáculo será apresentado na sala Le 360, um novo espaço parisiense dedicado à música, no 18° distrito da capital, na terça-feira (23), às 20h30 (le360paris.com).

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PCC já opera na Europa além do tráfico de drogas e autoridades ainda minimizam o risco

9/15/2025
A recente operação da Polícia Federal (PF) brasileira, batizada de Carbono Oculto, revelou uma faceta alarmante da evolução do Primeiro Comando da Capital (PCC). Segundo Roberto Uchôa, membro do conselho do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o grupo deixou de ser apenas uma organização de narcotráfico para se tornar um verdadeiro “conglomerado criminoso empresarial”, com atuação global e crescente influência em mercados legais, inclusive na Europa. “O que ocorre é que essa metamorfose que eu assim chamei do PCC, ela não foi rápida, não foi momentânea. É um processo longo”, explica Uchôa, que atua como consultor especializado em crime organizado, controle de armas de fogo e políticas de segurança pública no Brasil. Fundado nos presídios paulistas como uma irmandade para proteger criminosos da violência do sistema penitenciário, de abusos de autoridade e de tortura, o PCC expandiu sua atuação para fora das cadeias, dominando o tráfico de drogas e, posteriormente, o comércio internacional de entorpecentes. A facção ganhou força financeira ao controlar toda a cadeia do narcotráfico – da produção à remessa internacional. “É a partir daí que começa a entrada do PCC na Europa, na África Ocidental e em outros países”, afirma Uchôa. Dados do Ministério Público de São Paulo indicam que o grupo já está presente em 28 países, muitos deles europeus. Do tráfico à lavagem de dinheiro em mercados legais Segundo Uchôa, há uma percepção equivocada por parte das autoridades europeias de que o PCC atua apenas como fornecedor de drogas em larga escala – o chamado “atacado” do narcotráfico. “Nesse momento, o PCC está focado no transporte internacional da droga, especialmente para a Europa. A venda, no varejo, é feita por organizações locais”, explica. Essa estrutura faz com que o grupo pareça menos ameaçador, já que não está diretamente envolvido em atos violentos ou em confrontos urbanos no continente. “Por isso, muitos ainda enxergam o PCC como uma organização criminosa brasileira focada exclusivamente no narcotráfico, sem grande impacto sobre o sistema financeiro ou sobre a segurança pública europeia”, observa Uchôa. No entanto, essa visão superficial ignora uma transformação profunda e estratégica da facção. A operação Carbono Oculto, realizada no Brasil, revelou que o PCC já ultrapassou a fronteira do tráfico e passou a atuar intensamente nos mercados legais. “O tráfico de drogas foi, inicialmente, uma forma de capitalização. Depois, o dinheiro passou a ser lavado em mercados ilegais. E, num terceiro momento, o PCC percebeu que o mercado legal não só serve para lavar dinheiro, mas também para gerar lucro direto na ilegalidade”, detalha. Essa nova fase inclui atividades como contrabando de cigarros, adulteração de combustíveis e garimpo ilegal. “São várias as formas de atuação que o PCC passou a explorar no Brasil, e o risco é que esse modelo seja replicado na Europa”, alerta Uchôa. A presença da facção em países europeus, como Portugal, já começa a mostrar sinais dessa expansão. “O PCC tem adquirido estabelecimentos comerciais, imóveis e até se falou em investimentos em times de futebol. Isso é um alerta claro”, afirma. Ele adverte que, se não houver uma resposta firme, o grupo pode começar a distorcer o mercado legal europeu da mesma forma que fez no Brasil – comprando postos de combustíveis, por exemplo, para lavar dinheiro em operações que envolvem grandes volumes de dinheiro vivo. “Esse é o perigo: tratar o PCC apenas como uma organização de tráfico, quando na verdade ele está se infiltrando nos mercados legais e criando distorções profundas. O exemplo brasileiro precisa ser levado a sério pelas autoridades europeias”, enfatiza. Europa sob risco: o caso português Em Portugal, a presença de uma grande comunidade brasileira no país facilita a atuação da facção. Uchôa destaca uma operação recente que exemplifica essa complexidade. “O governo português, em parceria com a Polícia Federal brasileira, desmantelou um esquema de...

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